Doutoranda da UEA é aprovada no Programa de Mobilidade Internacional Indígena para universidade na França

Indígena da etnia Kokama, Alícia Patrine garantiu uma bolsa de estudos na Université Paris 8, na França

“Eu preciso dar voz ao meu povo”. Essa é a meta de Alícia Patrine Cacau dos Santos, indígena da etnia Kokama, que conquistou a aprovação no Programa de Mobilidade Internacional Indígena “Guatá”, garantindo uma bolsa de estudos na Université Paris 8, na França.

Alícia é doutoranda do Programa de Pós-Graduação de Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas (PPGMT/UEA), em Doenças Tropicais Infecciosas, em parceria com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado. O “Guatá” é resultado da parceria entre a Assessoria de Relações Internacionais (ARI) da UEA e o governo francês, por intermédio da Embaixada da França, em Brasília.

A UEA integra um grupo de cinco universidades brasileiras credenciadas ao programa: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR).

Natural de Tabatinga (distante 1.108 quilômetros de Manaus), Alícia explica que já havia participado de outras seleções, mas sem sucesso. “Ao buscar programas sanduíches na internet, notei que a UEA estava no programa Guatá. Vi a bandeirinha do Brasil e disse: é a minha oportunidade. Separei toda a documentação e, quando recebi a resposta, chorei de alegria. Durante todo o processo do aceite, a ARI me deu total apoio. No momento, estamos no processo de vistos”, explica Alícia.

Para o reitor da UEA, o Prof. Dr. André Zogahib, é de extrema importância a universidade investir em parcerias visando a capacitação de alunos. “Nos alegramos imensamente de ver o crescimento profissional de pessoas formadas pela UEA. Elas estão ganhando o mundo, levando o nome da nossa instituição, do nosso estado, pelo mundo afora”, enfatizou.

A reitora em exercício da UEA, Prof.ª Dra. Kátia Couceiro, reforça que a UEA surgiu para desenvolver o Amazonas, principalmente a educação do ribeirinho e do indígena. “A gente precisa dar oportunidade para as pessoas realizarem os seus sonhos. Vemos o desempenho, força de vontade e entusiasmo da Alícia. Isso é motivo de orgulho para a universidade”, destacou.

A tratativa da parceria entre UEA e Embaixada da França iniciou no primeiro trimestre de 2023. Por meio da iniciativa, estudantes indígenas de pós-graduação da UEA, em todas as áreas do conhecimento, têm a oportunidade de estudar em universidade francesa por até 11 meses, com bolsa de estudos no valor de 800 euros e outros benefícios, como seguro-viagem. Além disso, a UEA ofertará um curso de idiomas.

A diretora da Assessoria de Relações Internacionais, Prof.ª Dra. Vanúbia Moncayo, explica que a parceria veio em um momento oportuno, pois a ARI passou por uma reestruturação. “Conseguimos o acordo e colocamos a UEA no programa Guatá, ao lado de grandes universidades”.

Vanúbia ressalta ainda que, pós-pandemia, o mundo vive em um processo intercultural muito pujante. “Justamente para congregar culturas diferentes e valorizar a identidade de cada um. E, para a nossa alegria, temos a primeira aluna indígena aprovada da UEA”.

Processo de reparação histórica

Formada em Biomedicina, Alícia acredita que o momento da etnia Kokama é de resgate da identidade cultural. “Somos da região do Alto Solimões. Nossa etnia foi quase extinta. Foi um processo longo e muito violento da colonização. Durante muito tempo a gente se escondeu”, ressalta.

Ao relembrar a sua trajetória acadêmica, Alícia ouviu muito dos pais que os indígenas precisam estar em todos os lugares. “Tive crises de identidade por ser indígena e estar em contexto urbano. Não tive aulas de física no Ensino Médio, a infraestrutura no interior é complicada. Estudei para o Enem com livros que seriam queimados. Então, é uma luta. Porque sempre somos associados a pessoas matutas, preguiçosas, sujas. Na graduação, percebi que em muitos eventos falavam sobre a Amazônia, mas os amazônidas não estavam presentes. Ou seja, as pessoas que conhecem a realidade, que vivem em área ribeirinha, em área indígena”, contou a doutoranda.

FOTOS: Daniel Brito/Ascom UEA e Arquivo Pessoal

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